
Por Regina Krauss
A entrada em vigor da Reforma Tributária já começa a moldar a rotina de contadores em diferentes regiões do Brasil, ainda que o novo sistema, que substitui tributos federais e estaduais pelo IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e pela CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), esteja em fase de transição. Os profissionais da contabilidade são os responsáveis por fazer a ponte entre a nova legislação e as empresas e contribuintes. De executores operacionais, eles passam a atuar como consultores estratégicos dos negócios.
Amazônia: adaptação em meio a desigualdades
No Pará, a adaptação encontra obstáculos adicionais: infraestrutura precária, acesso limitado à tecnologia e falta de informação. Em cidades como Altamira, Santarém, Marabá e Itaituba, Carvalló, proprietário de consultoria empresarial, atenta para a necessidade de atenção redobrada dos setores mais sensíveis à cumulatividade, como o comércio e os serviços, especialmente das pequenas empresas situadas em regiões mais distantes dos grandes centros, como o oeste do Pará.
“Estamos diante de uma mudança que exige preparo técnico, mas sobretudo uma nova postura: o contador deixa de ser apenas um cumpridor de obrigações e se torna um verdadeiro estrategista fiscal”, afirma Carvalló, veterano com 40 anos de atuação e referência em planejamento tributário na região amazônica.
Para ele, a missão é clara: liderar o processo de adaptação dos empresários locais “para que eles não apenas sobrevivam à reforma, mas prosperem com inteligência”.
Nordeste: estratégia e tecnologia como diferencial
Em Recife, o cenário é outro, mas o desafio é igualmente complexo. Pedro Barros, COO da BWA Global, que opera unidades em Recife, Natal, São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, vê a Reforma como um divisor de águas para a atuação contábil. “O contador que quiser continuar relevante nos próximos anos precisa começar a agir agora. E isso só é possível com uma equipe engajada, tecnologia de ponta e uma cultura voltada para dados, performance e antecipação”, afirma. Para ele, a mudança não é apenas fiscal: “Reestruturamos processos, redefinimos responsabilidades e aproximamos tecnologia, contabilidade e tomada de decisão”.
Sul: mudança de mentalidade
Em Joinville (SC), Vanessa Correa Stoklosa, CEO da Contech Contabilidade, relata que a reforma já transformou completamente a rotina do seu escritório. “Ela não é apenas uma reforma de impostos, é uma reforma de preços, de modelo de negócio e, principalmente, de mentalidade. Pois agora é necessário fazer gestão e muitas empresas não fazem”, pontua.
Vanessa deixou a gestão direta de suas áreas para se dedicar exclusivamente à preparação dos clientes, com foco em empresas de maior porte. “Só com a revisão de contratos sociais voltados à distribuição de lucros, geramos mais de R$ 136 mil em receita. Também reformulamos nosso setor de BPO financeiro e mapeamos vulnerabilidades dos clientes frente à reforma”. Segundo ela, além da reorganização interna, o maior obstáculo está na resistência de parte da própria classe contábil. “Porém, quem está atento sabe que esta será a maior transformação da nossa geração”, finaliza.
Em Toledo, oeste do Paraná, o contador Márcio Rafael Ficagna, do Grupo Fica, destaca que o maior desafio está em fazer os empresários entenderem a urgência de se adequar. “A ficha ainda não caiu. Transformações de sistemas e necessidade de capacitação são os maiores obstáculos. Em mais de 30 anos de carreira e quase 50 do nosso escritório, que é uma empresa familiar, nunca vivemos nada parecido”, afirma.
Centro-Oeste
Diva Lorente, fundadora da Prospere Negócios Contabilidade Consultiva em Sinop, Mato Grosso, percebe que a reforma tributária já está mudando a rotina do escritório, exigindo atualização constante e uma atuação ainda mais próxima dos clientes. “O fato de atuarmos de forma consultiva há bastante tempo nos ajudou muito nesse processo, já que os clientes estavam acostumados a nos ouvir e confiar nas orientações”, esclarece. Segundo ela, agora, além de analisar os impactos tributários, os contadores têm ajudado na organização da gestão financeira, o que é essencial para atravessar essa transição com mais segurança e visão estratégica.
Sudeste: puxando a conversa
Em São Paulo, Marco Antonio Venegas também observa certa apatia do empresariado. “A procura dos clientes ainda é pequena quando o assunto é reforma tributária. Na verdade, somos nós que estamos puxando essa conversa, perguntando o que eles entenderam até agora e quais impactos já conseguem enxergar nos seus negócios”, relata. Seu escritório já iniciou conversas individuais com os clientes para garantir que entendam o que está por vir, em um esforço de antecipação e orientação.
Nordeste: técnica e segurança na transição
Para Haroldo Andrade, contador em Fortaleza (CE), a virada de chave é clara. “A reforma tributária muda as regras e nós mudamos com elas, com técnica e segurança”. Andrade acredita que neste novo contexto, os contadores passam de executores para consultores de negócios.
Esta é a visão também do governo federal. Bernard Appy, secretário extraordinário da Reforma Tributária, tem afirmado em congressos que os profissionais da contabilidade terão papel essencial ao auxiliar empresas na tomada de decisões estratégicas.
Segundo Appy, a simplificação do sistema permitirá que os contadores se dediquem menos às obrigações acessórias e mais ao suporte estratégico. Todo o sistema será baseado em dados centralizados, com documento fiscal eletrônico e a execução das tarefas cotidianas que hoje tomam tempo excessivo deve diminuir consideravelmente.