NFS-e Nacional: o que as empresas precisam saber?

Por Vinicius Zucchini

Enquanto muitos profissionais da área fiscal concentram suas atenções na CBS e no IBS, um ponto crítico da reforma tributária passa despercebido por boa parte do setor privado: a estrutura e o funcionamento da Nota Fiscal de Serviço Eletrônica (NFS-e) de padrão nacional.

O alerta veio direto da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), durante uma live técnica com a Receita Federal: a Nota Técnica 003/2025 (versão 1.1) já está publicada e abre caminho para um novo modelo de emissão, cálculo e apuração de tributos sobre serviços. E tudo isso começa agora.

Se sua empresa presta serviços para clientes em múltiplos municípios, utiliza sistemas próprios ou soluções de terceiros para emissão de NFS-e, ou precisa calcular tributos com precisão… esse conteúdo é para você.

O que muda com a NT 003/2025?

A NT define os novos campos obrigatórios no XML da NFS-e nacional, com foco na transição do ISS para o modelo de CBS e IBS. Ela cria grupos específicos para os dois tributos, define regras de negócio e validação, e exige que todos os documentos estejam em conformidade com o padrão nacional.

Seja a nota emitida diretamente pela plataforma federal, seja compartilhada por sistemas próprios dos municípios, as informações serão únicas e padronizadas.

Isso muda completamente a lógica de integração para:

  • ERPs que geram NFS-e
  • Softwares fiscais e emissores próprios
  • Soluções de automatização de apuração tributária
  • Gateways de transmissão de documentos

O risco: não esperar os municípios

A live da CNM foi direcionada aos municípios — mas as decisões deles impactam diretamente os contribuintes. A LC 214/2023 obriga os municípios a aderirem à plataforma nacional até 01/01/2026, sob pena de perda de transferências voluntárias.

Ou seja: as empresas serão forçadas a se adaptar à NFS-e, no entanto, não se saber se os municípios estarão 100% prontos. O risco é claro: inconsistência, rejeições, erros de cálculo, atraso na apuração e impacto no negócio.

Dois cenários para as empresas

  1. Municípios que optarem pelo emissor nacional
    Empresas passarão a usar a plataforma federal para emissão de NFS-e — com novos layouts, campos obrigatórios, regras de validação e cálculo.
  2. Municípios que optarem por compartilhar seu próprio emissor
    Empresas seguirão emitindo nos emissores locais, mas precisarão garantir a atualização dos seus sistemas com a atualização dos emissores das prefeituras, pois qualquer erro de estrutura ou dados pode comprometer o cálculo do IBS/CBS.

Conclusão: não importa o cenário. A empresa precisa estar pronta.

O que muda na prática para as empresas

  • layout XML da NFS-e foi ampliado, com novos grupos para IBS e CBS.
  • NBS (Nomenclatura Brasileira de Serviços) será obrigatória e validada com o código de serviço da LC 116.
  • A plataforma vai usar DPS (Declaração de Prestação de Serviço) como base para calcular tributos.
  • Será possível utilizar uma calculadora oficial de tributos (em desenvolvimento) para garantir conformidade no cálculo.
  • A Receita receberá lotes de até 50 notas por vez — integração via API exigirá atenção a limites técnicos.
  • A empresa poderá consultar alíquotas via integração com serviços do Comitê Gestor ou da RFB (a definir).

O que empresas e profissionais devem fazer agora

  1. Atualizar sistemas emissores
  2. Revisar parametrizações de serviços com base na NBS
  3. Acompanhar quais municípios onde atuam já aderiram ao padrão nacional
  4. Adequar regras de negócio para refletir IBS/CBS durante a transição
  5. Ajustar integrações com prefeituras que optarem por compartilhamento
  6. Testar o impacto das novas regras na apuração de créditos e retenções

O prazo não é 2026. É agora.

As regras já estão publicadas. O layout já está disponível. As validações já estão em fase de testes.

Se a sua empresa esperar os municípios se organizarem para só então adaptar seus sistemas, você ficará para trás. O custo da inércia será alto: glosas, autuações, perda de créditos e insegurança jurídica.

Agora é o momento para agir — e sair na frente.


Vinicius Zucchini é Head de Reforma Tributária para o SAP


Os artigos escritos pelos “colunistas” não refletem necessariamente a opinião do Portal da Reforma Tributária. Os textos visam promover o debate sobre temas relevantes para o país.

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