
Por Diego Pires
Quero iniciar este artigo com a seguinte frase: “Na nova era fiscal, saber tributos não é mais diferencial – é sobrevivência.”
Há alguns anos, o papel do analista fiscal era essencialmente operacional. Cabia a ele acompanhar legislações, emitir notas fiscais, calcular tributos e cumprir prazos, ou seja, um profissional necessário, mas muitas vezes visto como aquele que deveria conferir e entregar. Hoje, esse perfil apresenta limitações em relação às exigências estratégicas do cargo. Com a Reforma Tributária em curso, é necessário se reposicionar. Tornou-se essencial que ele seja mais do que executor: é importante expandir suas competências e habilidades técnicas, passando a ser um estrategista de negócios, compreendendo o impacto de cada mudança normativa, antecipando riscos, orientando decisões, traduzindo a complexidade tributária em segurança para a alta liderança e promovendo vantagens competitivas junto ao mercado.
É vital conhecermos a Reforma Tributária por meio das emendas constitucionais e leis complementares. O atuante na área fiscal precisa compreender a fundo esses termos e não apenas saber que eles existem. Estamos diante do alfabeto tributário, e dominá-lo não é mais opcional. Um exemplo claro disso está na criação do IBS (Imposto Sobre Bens e Serviços), que vai substituir o ICMS e o ISS. Isso afetará diretamente setores como varejo, logística, tecnologia e serviços, que historicamente dependem de estratégias fiscais regionais. Com a nova sistemática, o local do consumo passa a ter mais relevância, e isso muda completamente como as empresas deverão se estruturar para operar. Ou seja, o que quero demonstrar é que não se trata apenas de saber o que a legislação mudará, mas de compreender como essas mudanças impactarão o dia a dia das empresas, os processos, os custos, os preços, as decisões operacionais e, principalmente, como se antecipar a elas. Além disso, refiro-me à necessidade de adquirir uma visão estratégica, uma capacidade de análise preditiva e uma participação ativa na construção das decisões empresariais. Deverá ser um verdadeiro intérprete da constituição tributária, alguém capaz de antecipar riscos, apontar oportunidades e propor soluções.
Oportunamente, vejo que este é um momento de grande valorização do profissional da área fiscal. Com a complexidade de novos sistemas, as empresas já começaram a buscar talentos que conheçam a fundo essas mudanças e que consigam traduzir esses conhecimentos em decisões práticas. Falo isso com base em situações reais. Vamos situar o exemplo de uma empresa do setor varejista que, ao entender os impactos da CBS e do IBS, consegue rever sua estrutura de compras e melhorar sua margem e lucro. Se o analista fiscal não tivesse estudado minimamente a reforma, essa oportunidade teria passado despercebida, ou o exemplo de uma indústria com benefícios fiscais estaduais, que, com a transição do modelo antigo para o novo, verá boa parte desses incentivos ser extinta ou reavaliada. Dessa forma, conhecer a Emenda Constitucional 132/2023 será fundamental para prever essas mudanças e orientar o jurídico com tempo hábil para buscar alternativas.
Por fim, acredito que o maior impacto da Reforma Tributária não será nos números, e sim nas competências e habilidades do perfil profissional. Por isso, prezado leitor (a), estudar a reforma não será uma tarefa simples. Certamente será densa, extensa, cheia de detalhes que ainda serão regulamentados e quem ainda está esperando para começar, já está atrasado. A reforma está acontecendo agora. A transição já começou. Portanto, quem entende o que está por vir terá vantagens competitivas. Por isso, defendo com firmeza a necessidade de atualização constante. Não falo sobre mais um curso em seu currículo — é sobre ampliar seus conhecimentos contábeis, jurídicos e fortalecer relações com a diretoria. É sobre ser relevante. E relevância, hoje, está diretamente ligada à capacidade de constantes adaptações.
Concluo dizendo que a Reforma Tributária não é apenas uma mudança no sistema de tributos — é uma oportunidade de transformação para o profissional da área fiscal. Quem passar a entender isso crescerá. Quem ignorar, corre o risco de ser substituído.
Diego Pires é formando em Recursos Humano e Pós-graduado em Fiscal Tributário.
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