
Por Karen Miura
A Reforma Tributária brasileira trará mudanças significativas para o sistema fiscal do país, substituindo tributos federais, estaduais e municipais por um novo modelo de Imposto sobre Valor Agregado (IVA). E isso não é mais novidade. Diante desse cenário, a adaptação das empresas ao novo regime tributário dependerá fortemente da tecnologia fiscal, que passa a ter um papel central na gestão tributária. E isso não é novidade também.
Mas, dentre vários desafios já mapeados, acredito que um dos principais desafios dessa transição será a correta apuração dos tributos dentro dos sistemas de gestão empresarial (ERPs). Isso porque até os dias de hoje os sistemas de gestão empresarial por muitas vezes guardam apenas o contábil e o financeiro com dezenas de planilhas e controles fiscais (manuais ou automáticos) por fora do ERP principal. A novidade é que o sistema fiscal do governo se automatizou e isso naturalmente aproxima essa necessidade das empresas.
Nesse contexto, surgem alguns elementos não tão novos mas agora cruciais: os motores de cálculo tributário é um deles e escolhi tratar dele no artigo deste mês em sequência dos artigos onde tratei do ERP em si. E a cada mês abordarei uma parte importante do ecossistema tecnológico das empresas quer seja relacionado ao ERP que seja relacionado aos sistemas que o orbitam.
Mas o que são esses motores? Eles já existem nos ERPs ou são funções que precisam ser adicionadas por meio de sistemas satélites? E, mais importante, como eles serão fundamentais nessa fase de transição e no futuro do compliance tributário no Brasil?
Os motores de cálculo são ferramentas tecnológicas que processam regras fiscais para determinar com precisão o montante de impostos de uma transação. Eles analisam dados operacionais, aplicam regras tributárias, verificam benefícios fiscais e exceções legais, e geram cálculos conforme à legislação vigente.
Diferente de um simples sistema de cadastro de impostos, os motores de cálculo possuem inteligência parametrizável e, em alguns casos, até automatizada, permitindo:
• O cálculo correto dos tributos em operações de compra e venda;
• A gestão de regimes especiais e incentivos fiscais;
• A automação de regras tributárias complexas, reduzindo erros manuais; e
• A atualização constante das mudanças na legislação.
No cenário da Reforma Tributária, os motores de cálculo se tornarão a espinha dorsal da automação fiscal, garantindo conformidade e reduzindo riscos tributários para as empresas. Em linha com o meu artigo anterior, por exemplo, o SAP S/4HANA e versões anteriores, como o SAP ECC, possuem módulos específicos para gestão tributária, mas não possuem um motor de cálculo tributário completo embutido.
Os cálculos fiscais dentro do SAP são tradicionalmente gerenciados por meio do Tax Procedure (Procedimento Fiscal), um modelo parametrizável que permite configurar regras de impostos. Porém, essa solução tem limitações:
• Não se atualiza automaticamente com mudanças na legislação;
• Exige configurações manuais complexas, aumentando o risco de erro humano; e
• Depende de consultorias especializadas para ajustes periódicos.
Por isso, empresas que utilizam SAP contam normalmente com sistemas fiscais satélites para realizar cálculos tributários mais sofisticados e dinâmicos. Essas ferramentas atuam em paralelo ao ERP, fornecendo os valores tributários calculados de forma mais detalhada e precisa. Entre as soluções fiscais mais utilizadas no mercado que se integram ao SAP, podemos destacar o da Thomson Reuters ONESOURCE | TaxOne.
Esses sistemas funcionam como motores de cálculo externos, alimentando o ERP SAP com os valores corretos de impostos. Essa abordagem reduz a necessidade de constantes ajustes manuais dentro do próprio SAP, tornando o processo mais eficiente e confiável.
Qual a diferença entre motores de cálculo tradicionais e os de nova geração?
Os motores de cálculo evoluíram ao longo dos anos. Hoje, podemos classificá-los em três gerações:
1ª Geração – Motores Estáticos
• Baseados em regras fixas dentro dos ERPs.
• Demandam atualizações manuais sempre que há mudanças na legislação.
• São rigorosos, mas pouco flexíveis para novas regras tributárias.
2ª Geração – Motores Parametrizáveis
• Utilizam tabelas e parâmetros configuráveis, permitindo ajustes mais rápidos.
• Facilitam a gestão de regimes tributários específicos.
• Ainda exigem intervenção humana para atualizações periódicas.
3ª Geração – Motores Inteligentes e Automatizados
• Integram buscadores de legislação, atualizando regras fiscais em tempo real.
• Utilizam inteligência artificial (IA) para prever impactos de mudanças tributárias.
• Permitem gestão preditiva, recomendando ajustes fiscais antes de riscos se materializarem.
Com a chegada da Reforma Tributária, a necessidade por motores de cálculo inteligentes será ainda maior, pois eles reduzem drasticamente o risco de erros fiscais e garantem que as empresas acompanhem as mudanças sem precisar de grandes esforços manuais.
O seu motor de cálculo será o diferencial da sua gestão na transição para a reforma tributária e, posteriormente a janeiro de 2033 também em razão de fatores críticos que tornam os motores de cálculo essenciais para esse momento:
1. O Novo Modelo Tributário Será Progressivo
• As regras tributárias não serão implementadas de uma única vez.
• Nos primeiros anos, ainda coexistirão os sistemas atuais e novos impostos.
• Motores de cálculo inteligentes podem gerenciar múltiplos regimes tributários simultaneamente.
2. A Necessidade de Atualizações Frequentes
• Entre 2026 e 2032, o sistema tributário passará por ajustes contínuos.
• Motores de cálculo avançados automatizam essas atualizações, reduzindo o impacto para as empresas.
3. A Integração com Buscadores de Legislação (spoiler…tema do meu próximo artigo)
• Soluções que conectam motores de cálculo a buscadores de legislação.
• Isso permitirá que novas regras tributárias sejam automaticamente incorporadas ao sistema.
• O SAP, por si só, não realiza esse tipo de atualização automática, o que reforça a necessidade de soluções externas integradas.
Arrisco a prever que na transição para o novo modelo tributário brasileiro boa parte dos desafios operacionais e estratégicos para as empresas será resolvida com bons motores de cálculo da nova era digital. Nesse cenário, motores de cálculo se tornam elementos indispensáveis, garantindo:
Automação e confiabilidade no cálculo de tributos.
Conformidade legal, evitando penalidades por erros fiscais.
Eficiência operacional, reduzindo o tempo gasto com ajustes manuais.
Integração com novas tecnologias, como buscadores de legislação e IA.
A nova geração de motores de cálculo não apenas resolverá os desafios imediatos da Reforma Tributária, mas também se tornará um componente fundamental na governança tributária do futuro. O mercado agora aguarda soluções que prometem facilitar essa transição ao conectar buscadores de legislação inteligentes com motores de cálculo inteligentes, garantindo que as regras fiscais estejam sempre atualizadas e precisas.
A grande questão para as empresas não é mais “se” devem implementar um motor de cálculo, mas “qual” motor escolher para garantir conformidade e competitividade nesse novo cenário fiscal.
E sua empresa, já tem um motor de cálculo inteligente?
Karen Miura atua como CFO (Chief Future and Financial Officer), CVO (Chief Visionary Officer) e Conselheira Consultiva de Startups para Futuro e Inovação. Lidera o Squad da reforma tributária da W-CFO.
Os artigos escritos pelos “colunistas” não refletem necessariamente a opinião do Portal da Reforma Tributária. Os textos visam promover o debate sobre temas relevantes para o país.