
O tributarista, por definição, já está habituado a viver sob intensa pressão e elevados níveis de estresse. São desafios diários: mudanças incessantes na legislação, criação constante de novas regras tributárias, multiplicação de obrigações junto ao Governo, expectativa de impactar positivamente os resultados das empresas e, ainda, um contencioso gigantesco tanto na esfera administrativa quanto judicial. Agora, somam-se a esse cenário as recentes regras de Preço de Transferência, o advento do Pillar II e uma Reforma Tributária que muda completamente as regras do jogo.
Esse contexto se agrava ainda mais diante do “prêmio” nada honroso que o Brasil acaba de receber: o de país mais ansioso do mundo, conforme divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Se antes éramos conhecidos como o país do futebol, do carnaval ou do samba, agora somos o país dos ansiosos. Segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), 40% dos trabalhadores brasileiros sofrem de burnout — e a maioria sequer é diagnosticada. Ocupamos a lamentável segunda colocação mundial em casos de burnout, atrás apenas do Japão, o que representa uma perda estimada de 400 bilhões de reais em produtividade, lucros e ganhos para a economia nacional.
Curiosamente, em 1970, quando nos sagramos tricampeões mundiais de futebol, também liderávamos o ranking mundial de acidentes de trabalho, segundo dados da OIT. Com o Brasil vivendo o auge do desenvolvimento impulsionado pelo lema “50 anos em 5” do presidente Juscelino Kubitschek, o crescimento acelerado veio acompanhado de acidentes e ausência de diretrizes mínimas de segurança. Foi preciso um título doloroso para compreendermos a importância de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e de regras que salvaram vidas.
Agora, como campeões mundiais da ansiedade, será que não precisamos repensar nossos “EPIs emocionais”?
A busca desenfreada por alta performance está transformando produtividade em autodestruição. Não raro, vemos empresas que, da porta para fora, ostentam resultados brilhantes, mas, da porta para dentro, convivem com pessoas adoecidas e emocionalmente esgotadas. Profissionais no piloto automático mal percebem sinais como exaustão, insatisfação, baixa energia, perda de interesse e autoestima reduzida. Muitos ainda acreditam que saúde emocional pode esperar — afinal, “não é hora para devaneios”, temos uma grande reforma tributária para enfrentar.
Deixo, então, uma provocação: quando foi a última vez que você fez um check-up? Um exame de sangue? Provavelmente, alguns responderão que fazem anualmente — mas quantos já fizeram um check-up emocional? Quando foi a última vez que você tirou um tempo para si? Como disse Izabella Camargo: “Dor que não sangra, dói em dobro”. No ambiente corporativo, parece que, se não houver um desmaio explícito, ninguém acredita na dor emocional. Apenas você conhece as batalhas internas, desafios, cobranças e sofrimentos. Aquilo que não é dito, dói ainda mais. Não espere o quadro se agravar para reconhecer que é hora de desacelerar.
Pausas não interrompem sua produtividade, elas a renovam. Esteja atento aos seus sinais e não os negligencie.
Dicas Práticas para Cuidar da Saúde Mental em Tempos de Reforma Tributária
1. Faça pausas estratégicas
Estabeleça micro-pauses ao longo do dia para respirar fundo, caminhar, alongar-se ou, simplesmente, tomar um café com atenção plena. Pequenas paradas restauram a mente e aumentam a capacidade de concentração.
2. Crie rituais diários de autocuidado
Dedique alguns minutos para práticas que lhe tragam bem-estar: meditação, leitura, escuta de música, jardinagem ou qualquer atividade que acalme a mente. Incorporar o autocuidado à rotina é tão importante quanto cumprir prazos.
3. Esteja atento aos sinais do corpo
Insônia, dores musculares, irritabilidade, esquecimentos e cansaço excessivo são alertas do corpo. Não os minimize. Sempre que possível, busque apoio profissional.
4. Compartilhe desafios com o time
Abra espaço para conversas honestas sobre saúde mental em reuniões e grupos de trabalho. Dividir angústias e ouvir relatos pode reforçar laços e gerar soluções colaborativas.
5. Defina limites claros
Estabeleça horários para início e término da jornada, mesmo no home office. Aprenda a dizer “não” a demandas excessivas. Preservar a saúde emocional é um ato de responsabilidade, não de egoísmo.
6. Pratique o exercício do “Check-up Emocional”
Inclua uma “autoavaliação emocional” periódica em sua agenda, assim como já faz com exames de rotina. Pergunte-se: como estou me sentindo hoje? O que tem me sobrecarregado? O que posso mudar?
7. Estimule o ambiente que acolhe
Organizações podem (e devem) criar programas de promoção da saúde mental, com escuta ativa, acesso a psicólogos, treinamentos de gestão empática e campanhas de sensibilização.
8. Reconheça suas conquistas — por menores que pareçam
Parabenize-se pelos avanços diários, celebre pequenas vitórias no meio do caos, e lembre-se: autocuidado não é luxo, é necessidade básica.
Em tempos de profundas transformações, o maior diferencial será cuidar, proteger e renovar nosso equilíbrio emocional. Que, assim como os EPIs revolucionaram a segurança do ambiente físico, possamos reinventar os EPIs da alma, fortalecendo a resiliência emocional do tributarista e do Brasil como um todo.
Fiquem bem com saúde do bem!
Daniel Mascareñas é casado com Karen e pai da Sara. Com mais de 19 anos de experiência, ele se destaca como líder de equipes tributárias em empresas globalizadas, incluindo EY, Bunge, CMOC, Dasa e ALE combustíveis. Atualmente Head of Tax da ALE Combustíveis.
Os artigos escritos pelos “colunistas” não refletem necessariamente a opinião do Portal da Reforma Tributária. Os textos visam promover o debate sobre temas relevantes para o país.