
Por Redação
Em entrevista exclusiva ao Portal da Reforma Tributária, o presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Ceará em Fortaleza, Felipe Guerra, comentou os temas centrais das mudanças estruturais e as oportunidades profissionais para a profissão contábil, especialmente no contexto da reforma tributária do consumo.
Confira abaixo, na entrevista, uma análise aprofundada sobre as mudanças que estão transformando a contabilidade no Brasil, os desafios enfrentados pelos profissionais da área e as oportunidades que surgem com a reforma tributária:
O que falta para o profissional contábil, visto as mudanças recentes?
O que eu percebo que ainda falta para a maioria dos profissionais é um entendimento de que a reforma tributária já começou, de que esse momento de transformação, ele não é algo que vai eventualmente acontecer no futuro, que ele já é uma realidade e que ele precisa se preparar para isso agora, ele precisa conhecer as ferramentas necessárias agora, ele precisa adaptar os seus processos agora. Então, eu acho que é essa percepção, para que ele possa, ao entender isso, ver as necessidades, as carências, principalmente relacionadas à qualificação, à capacitação, para que ele possa atravessar bem os próximos anos, tanto no que diz respeito à reforma, como no que diz respeito a novas tecnologias e até mesmo com relação à redefinição desses modelos de negócios.
Por que ainda existe essa dificuldade?
Porque, historicamente, a gente vivenciou muitos momentos onde as coisas eram prometidas e prorrogadas. Isso com o SPED foi muito comum. O E-Social foi prometido desde que em 2014, só foi começar a ser implementado em 2017. O Bloco K do SPED fiscal foi prometido em 2013, só foi ser implementado lá em 2017. Então, a gente veio de uma era de muitas prorrogações de cumprimento de obrigações e isso existe até um histórico recente. Ano passado, a gente teve a prorrogação de prazo de ECD prorrogação de prazo de ECF prorrogação de prazo de declaração do imposto de renda. Então, o contador, ele meio que deixa para ver no final. Eu não vou quebrar a minha cabeça com isso agora, eu vou deixar para me preocupar mais profundamente com isso quando chegar, de fato, o momento. Então, isso acaba fazendo com que ele crie aquele senso de eu vou pagar para ver. Se isso vai ser cobrado ou não, quando for, eu me dou o meu jeito, eu me viro.
Qual é o risco dessa postergação?
O risco disso é altíssimo. Porque quando a gente fala de novas tecnologias, a gente sabe que a tecnologia rompe modelos de negócios, culturas e se você perde o timing, você fica muito para trás. Quando a gente pensa em matéria de reforma, isso pode representar inconformidade para os clientes, pode representar risco de autuações fiscais, pode representar pagamento de tributo indevido, pagamento de tributo maior. Então, o risco é, de fato, muito alto.
Qual é o risco para as empresas que transferem integralmente a responsabilidade para os contadores?
Historicamente, os empresários acabam transferindo essa responsabilidade para os contadores. Não é à toa que os contadores têm um senso de que as obrigações acessórias são exigidas deles, e não são. São das empresas. Quem é o sujeito passivo, quem tem que cumprir a obrigação é a empresa. Mas essa relação de transferência de responsabilidade é tão forte que o contador sente como se estivesse sendo ele cobrado. Então, os empresários, eles, de fato, transferem, eles acreditam que o contador deles vai tomar de conta de tudo, eles acreditam que o contador dele vai adequar os processos, adequar os sistemas, adequar tudo.
Só que, é óbvio que isso, a gente não generaliza. Estou falando aqui pelo menos com a percepção, porque eu ligo com contadores diariamente. Mas, a gente tem percebido, em virtude do tom midiático que a reforma tributária tem, está sempre, todos os dias tem notícias sobre a reforma tributária, que os empresários, eles são pelo menos assim, que eles são de alerta ligado e provocando os seus contadores. Perguntando, querendo saber. O problema é que quando ele encontra um profissional que está meio por fora do assunto, ele diz não, não se preocupe não, não começou ainda nada não. O risco mora aí. De fato, eu percebo que tem empresários que estão preocupados, que estão dispostos a investir, mas ainda existe uma carência de profissionais no mercado para dar a informação precisa e ajudá-los a se adaptar.
E qual é a maior oportunidade para o meio?
A oportunidade gigantesca, e é exatamente desse trabalho consultivo. Você estar de fato orientando as empresas na adaptação dos processos, estar ajudando e criando novos produtos para esses clientes. A empresa já é teu cliente de contabilidade, mas o teu contrato de contabilidade não está envolvido ali e você adequá-lo para a reforma tributária. Então você tem um produto a mais. Um produto a mais em relação ao planejamento tributário, um produto a mais com relação à gestão de estoques, de créditos. Eu tenho créditos acumulados, o que é que eu vou fazer? Então é um universo gigantesco de oportunidade, mas para quem despertar, para quem ficar ligado. Porque senão o bonde vai passar e você vai perder a oportunidade.